quinta-feira, junho 26, 2008

Reflexões sobre o Admirável Mundo Novo
(Inspirado na melhor obra que li nos últimos tempos)

Embora tenha sido escrita na década de trinta, o que pode-se perceber é a grandiosidade do autor em “prever o futuro” de maneira tão fictícia, mas ao mesmo tempo, abordar o tema, com um caráter tão sociologicamente indagador.
“Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley é a pulga atrás da orelha da humanidade, a busca pela estabilização social, que se segue a paz, o controle de doenças, de natalidade, de sentimentos maldosos e enfim o que seguirá a seguir.
A história narra um mundo perfeito. Nesse mundo perfeito os bebes são criados em laboratório (não se esqueçam das células tronco nessa hora!), e todos eles serão destinados a pertencer a uma determinada casta. Durante esse circuito, os embriões até chegarem a idade adulta são submetidos a uma espécie de lavagem cerebral, que condicionará sua submissão à casta pelo resto da vida. Ou seja, o “Admirável Mundo Novo” não deixa de fugir dos ideias marxistas que, une os trabalhadores, pois todos os cidadãos são destinados a trabalharem como operários, independente de qual local esteja designado. O que diferencia o ideal desse mundo, é a superioridade do ser criado. Um embrião para a formação de uma pessoa, significa uma casta maior; um embrião para quase 200 pessoas gêmeas, uma casta baixa. Estas que serão destinadas a trabalharem na indústria provavelmente.
Estaremos longe dessa realidade? Podemos até ter pai e mãe (ainda), mas muitos ainda são obrigados a trabalhar em lugares insatisfatórios, que no entanto, são considerados bons pelos indivíduos, pois o que se segue é que aquele que tem um emprego hoje, sinta-se feliz.
Todos os indivíduos pertencentes às mesmas castas, vestem as mesmas cores. Moda? Não. Um instrumento que visualmente, separa os melhores dos piores. Olha como não estamos longe: alguns compram indumentárias que valem o alimento de mais de um ano para outros. Moda? Não. Um instrumento que ostenta os melhores para os piores.
Todo o ser do “Admirável Mundo Novo”, é criado invariavelmente para trabalhar, ser feliz e consumir. Existe uma frase milhares de vezes repetida, esse processo é chamado hipnopédico, que os induz a não remendarem pois isso traz pobreza, e comprarem roupas novas.
“Os maiores triunfos da propaganda não se devem à ação, mas sim a omissão de
algum ato. A verdade é grande, mas maior ainda, do ponto de vista prático, é o
silêncio sobre a verdade” (HUXLEY, PÁG. 21)

Lembra alguma coisa? Sim, todos nós. Todos nós, sendo cada dia mais influenciados pelo poder da propaganda, mesmo sem lavagem cerebral. (ou existe alguma lavagem cerebral subliminar? Compre batom, compre batom!!)
Apenas uma entre bilhões de mulheres são produzidas férteis. Isso resolve o problema da hiper população no mundo. E mesmo as únicas férteis andam com uma cartucheira com um arsenal de anticoncepcionais.
São levados a encararem a morte como superficialidade, já que os cadáveres serão úteis aos vivos, os corpos são queimados e o fósforo exalado é reaproveitado em outros produtos industriais.

***pausa para respirar...***

“...a realidade, embora utópica, é algo de que se sente necessidade de tomar
férias com freqüência), um substituto para o álcool e outros narcóticos que seja
simultaneamente menos prejudicial e mais delicioso do que o gim ou a heroína...
“(HUXLEY, pág. 22)

Quando um indivíduo sente algum sentimento adverso a felicidade, ele toma o soma, uma droga sem efeitos colaterais, distribuída pelo governo, se é assim que se pode chamar, que mantém a felicidade como bem soberano, que é a lei mundial.
Já que toquei nesse assunto, cabe ressaltar que não existe monogamia, a promiscuidade entre as mulheres é convencional, e ai de quem não for promíscua e sair com o mesmo homem durante muito tempo! Ninguém é de ninguém. Todos são parte do coletivo. (Eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo me quer bem... já diriam os Tribalistas).
As crianças começam sua vida sexual muito cedo, entre sete/oito anos, aprendendo jogos eróticos, para estimular o sexo como um dos principais lazeres da vida. Pois esses seres são privados da leitura, já que isso poderia levantar questionamentos contra o sistema. O indivíduo deve pensar apenas no coletivo.
Hoje, a mídia exerce esse papel. Apenas passa o que não pode levantar suspeitas, e poucos são os veículos realmente comprometidos com a verdade. Lá também é assim. (realidade X ficção?)
Eu teria mais milões de comparações a serem feitas, já que a proximidade dessa narração com a nossa é infinita.

Mas estou aqui para dois motivos: aguçar a leitura dessa maravilhosa obra e dizer que se trata de uma questão que é que, para haver a tão sonhada estabilidade social, eu concordo com o autor. Teríamos que ser privados da religião, da ciência e da arte. Pois em suma são esses os pontos que mais geram a LIBERDADE.
Para que haja estabilidade social, paz e felicidade mútua é necessário, que de alguma forma todos sejam IGUAIS e pensem IGUAIS. Seria esse o preço a se pagar por um mundo perfeito? Seria bom ser narcotizado diariamente para não chorar? Trabalhar em um local onde existem mais mil você? Ter o mesmo pensamento que todo o resto do planeta? Acho eu que não.
Nobreza e heroísmo são sinais da ineficiência política, está no livro. Cabe a mim, ser o herói da sociedade, relatando fatos, indicando livros? Sim. Cabe a mim, pois eu vivo na instabilidade e depois de analisar como seria a vida perfeita, eu, assim como o Selvagem do livro prefiro que assim seja e assim continue. Isso não significa que não precisemos de melhoras, mas não estou disposta a me privar das artes e principalmente da minha LIBERDADE. Não, não, não.
“Porque o nosso mundo não é o mesmo de Otelo. Não se podem fazer calhambeques
sem aço – e não se podem fazer tragédias sem instabilidade social. Agora o mundo
é estável. O povo é feliz; todos tem o que desejam e nunca querem o que não
podem ter. Sentem-se bem; estão em segurança; nunca ficam doentes; não tem medo
da morte; vivem na perene ignorância da paixão e da velhice; não se aflingem com
pais e mães; não tem esposas, filhos, amantes a que se apeguem com emoções
violentas; são condicionados de modo a não poderem se comportar como devem. E se alguma coisa não estiver bem, tem o soma...” (HUXLEY, pág. 270)
Pois eu caros leitores eu quero mais, quero pegar gripe e não ir trabalhar, quero sentir a paixão e o amor, brigar com minha mãe, ter filhos e marido. Quero me comportar a minha maneira, e quando estiver bem velhinha, poder aplaudir-me no meu leito, a agradecer à Deus por ter vivido e assim, morrer em paz.

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