segunda-feira, setembro 29, 2008



Seg, 29 Set, 10h30

O império das bolachas negras contra-ataca. Depois de dados como mortos no início dos anos 90 - com a chegada dos CDs - e sepultados no começo do milênio - com a revolução digital - os discos de vinil aos poucos voltam a ser lançados por artistas brasileiros. São músicos e bandas que apostam na nostalgia e na força dos bolachões, algo comum em países da Europa e nos Estados Unidos.

A gravadora Deckdisc já fala em importar maquinários para ter sua fábrica própria de vinis no Brasil. Por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa afirma: "Estamos estudando a viabilidade de montar uma nova fábrica no Brasil ou aproveitar o espaço da antiga (a extinta Poly Som, no Rio de Janeiro, fechada em abril) para implantar as máquinas."

Enquanto as máquinas não vêm, os artistas se viram para colocarem seus vinis na praça. Ed Motta, que desde 2001 já lançou dois LPs, prepara uma edição em vinil de seu último CD, Chapter 9. "Tem muita gente desavisada achando vinil algo 'ultra hype', tipo onda de brechó. A verdade é que na Europa e nos EUA isso nunca deixou de ser mania. Só aqui no Brasil", diz.
O grupo Nação Zumbi é outro integrante da liga dos herói da resistência. Pupillo, o baterista, conta que a banda deve produzir em LP o disco Fome de Tudo até dezembro. E comenta: "Se perguntarem se preferimos produzir dez mil CDs ou mil LPs, definitivamente vamos escolher mil LPs."

Segundo alguns artistas, há vantagens no resultado final deste tipo de mídia justamente pelo fato de ele não procurar a perfeição e a limpeza dos meios digitais. "A sonoridade é bem melhor do que a de um LP. Muitas das 'ruidagens' (ruídos) do som original se perdem na hora da digitalização", afirma o pernambucano Lenine, que lançou em LP a versão de seu mais recente CD, Labiata. Pupillo, do Nação, se arrisca a falar em eternidade. "O LP é mais vivo, mais orgânico. E existe um nicho, um mercado para ele, não vai acabar. Acredito que, daqui a algum tempo, não teremos CDs." As informações são do Jornal da Tarde.

quinta-feira, setembro 25, 2008

Hoje me deu vontade de escrever um e-mail para um certo alguém, mas não tive coragem. Uma nota sobre essa falta de coragem: é engraçado, porque coragem para fazer milhões de coisas as vezes não tão legais eu tenho, mas para mandar um simples e-mail, expressando meus sentimentos, eu não tenho. Talvez seja porque eu tenha começado a fazer minha ‘recauchutagem’ astral somente essa segunda...
Bom, já que não tive coragem de mandar diretamente, eu vou escrever aqui o que seria mais ou menos um mail pra ele... quem sabe ele não entre aqui e leia? Com certeza vai saber que é pra ele!

Querido,

Há quanto tempo né? Se bem que nem faz tampo tempo assim... quase dois meses talvez? Parei de contar depois do meu aniversário que eu pensei que passaríamos juntos.
Tem me dado uma saudade de você ultimamente. Quanta saudade... não sei por que mas hoje lembrei de quando andávamos juntos de carro, eu fazendo cafuné... indo pra todos os lugares; lugares que com você eu iria para qualquer um. Lembrei também da nossa ida ao Mercadão. Lembrei do seu lençol verde, do seu escritório, do seu repentino mau humor. tantas as coisas... lembrei da conversa que nunca aconteceu.
Mas, tanto faz. Estou aqui agora, achando que converso com você, quando existem possibilidades de que você nem leia o esse e-mail.
E aí, como você está? Tudo bem? Trabalhando muito? Fiquei sabendo que seus negócios estão bombando! Viagens e tudo o mais. Que bom! Fico realmente feliz por você e espero que tudo dê certo na sua carreira, com sua família, com seu coração.
Penso em você. E juro, gostaria muito ainda daquela conversa. Mas acredito que você não.
Mesmo assim, é sempre bom Ter alguém bom no pensamento.
Fica com Deus, na paz, e de vez em quando lembra dos nossos momentos bons também!
Amo-te demais.
Beijo
Anandha C.


Falta-me coragem, sobra-me amor.

domingo, setembro 14, 2008

III

Saímos para a rua. Um grande automóvel azul claro estava estacionado junto à calçada. Ao vê-lo, fui repentinamente tomado de enorme alegria. Que prazer, que absurda satisfação comigo mesmo provinha daquelas superfícies abauladas do mais luzente esmalte! O homem criara à sua própria imagem. Ri até as lágrimas rolarem-me pelas faces.
(...)
Os efeitos da mescalina já estavam se dissipando.
(...)
Diante de nós, passavam os automóveis em uma torrente uniforme – milhares deles, todos brilhantes e polidos qual sonho de um anunciante, cada um deles mais ridículo que o precedente. Mais uma vez cai no riso convulsivo.
(...)
Parece extremamente improvável que a humanidade, de um modo geral, jamais seja capaz de passar sem Paraísos Artificiais. A maioria dos homens e mulheres leva uma vida tão sofredora em seus pontos baixos e tão monótona em suas eminências, tão pobres e limitada, que os desejos de fuga, os anseios para superar-se, ainda por uns breves momentos, estão e têm estado sempre os principais apetites da alma. A arte e a religião, os carnavais e as saturnais, a dança e a apreciação da oratória, tudo isso tem servido, na frase de H. G. Wells, de Portas na Muralha. E na vida individual, para uso cotidiano, sempre houve drogas inebriantes. (...)
A maior parte dessas substâncias não pode ser atualmente adquirida, a não ser mediante prescrição médica ou então ilegalmente e com graves riscos. O ocidente só permite o uso irrestrito do fumo e do álcool. Todas as outras Portas químicas na Muralha são rotuladas como estupafacientes e seus consumidores ilegais são viciados.
Gastamos, hoje em dia, muito mais em cigarros e bebidas que com educação. E nada há de mais surpreendente nesse fato. O impulso de fugir a nós mesmos e ao que nos rodeia está presente em cada um de nós, quase todo o tempo.
Foto: cactus que contém o alcalóide mescalina.

sábado, setembro 13, 2008

II

É para o mundo exterior que abrimos os olhos todas as manhãs, é nele que, de bom ou malgrado, temos de procurar viver. No mundo interior não há trabalho nem monotonia. Visitamo-lo apenas sonhos e devaneios, e sua singularidade é tal que nunca encontramos o mesmo mundo em duas ocasiões.
(...)
Muitos do que ingerem mescalina experimentam apenas as sensações celestiais da esquizofrenia. A droga só leva o purgatório ou o inferno àqueles que tenham tido um acesso recente de icterícia ou que sofram de depressões periódicas ou ansiedade crônica. Se, como acontece com outras drogas de poder incomparavelmente menor, a mescalina fosse reconhecidamente tóxica, sua ingestão seria suficiente para causar ansiedade. Mas o indivíduo razoavelmente saudável sabe antecipadamente que, para si, esse alcalóide será completamente inócuo e que seus efeitos terão cessado após oito ou dez horas, se, deixar sensações desagradáveis nem, consequentemente, ânsias por novas doses. Fortalecido por essa convicção, ele pode entregar-se à experiência sem temores – em outras palavras, sem qualquer predisposição para converter um ensaio de uma singularidade sem precedentes, inumano, em algo de aterrador, de verdadeiramente diabólico.
(...)
O esquizofrênico é uma alma, não só impura, como também desesperadamente desgostosa com sua situação. Seu tormento consiste na incapacidade de proteger-se contra a realidade, seja ela interior ou exterior (como faz o indivíduo normalmente são) refugiando-se no universo do senso-comum, por nós mesmos construído – esse mundo estritamente humano das noções úteis, dos símbolos compartilhados pelos demais, das convenções socialmente aceitáveis. O esquizofrênico é qual homem sob a influencia contínua da mescalina e, pois incapaz de deixar de experimentar uma realidade que ele não pode suportar por lhe faltar pureza; que não pode interpretar por ser ela o mais inflexível dos fatos fundamentais e que, por jamais permitir-lhe encarar o mundo com olhos simplesmente humanos, força-o a interpretar suas incessantes singularidades, sua candente intensidade de valores, como a manifestação da maldade humana ou até cósmica, levando-a às mais deseperadas contramedidas que vão da violência assassina, de um lado da escala, até a catatonia – ou suicídio psicológico – do outro. E, uma vez iniciada a descida pela rampa infernal, ninguém mais poderá deter-se. (...)

quinta-feira, setembro 04, 2008

Devido a minha atual fase de leitura, resolvi fazer um “resumo-fichamento” de mais um livro de Aldous Huxley: “As portas da percepção – O Céu e o Inferno”. Nesse livro o autor narra suas experiências com a substância alcalóide, mescalina.
Que fique claro que não se trata de uma apologia. Mas para aqueles que curtem o universo da transcendência, curtam. Conforme for prosseguindo a leitura, publicarei os parágrafos mais curiosos e interessantes já lidos.


I

"A despeito dos setenta anos de pesquisas sobre mescalina, o material psicológico que se dispunha era ainda incrivelmente reduzido, e ele [o pesquisador] estava ansioso por ampliá-lo. Eu me atravessara em seu caminho e estava disposto – ou melhor decidido – a servir de cobaia. E foi assim que, numa radiosa manhã de maio, tomei quatro decigramas de mescalina, dissolvidos em meio copo d’agua, e sentei-me para esperar os resultados.
Vivemos, agimos e reagimos uns com os outros; mas sempre e sob quaisquer circunstâncias, existimos a sós. Os mártires penetram na arena de mãos dadas; mas são crucificados sozinhos. Abraçados, os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados em uma única autotranscendencia, debalde. Por sua própria natureza, cada espírito, em sua prisão corpórea, está condenado a sofrer e gozar em solidão. Sensações, sentimentos, concepções, fantasias – tudo isso são coisas privadas e, a não ser através dos símbolos, e indiretamente, não podem ser transmitidas. Podemos acumular informações sobre experiência, mas nunca as próprias experiências. (...)
Assim, como poderá o indivíduo, mentalmente são, sentir o que realmente sente o insano? (...)
Palavras tais como Graça e Transfiguração vieram-me à mente, e isto, sem dúvida, era o que, entre outras coisas queriam elas significar. Meus olhos se encaminhavam da rosa para o cravo, e daquela incandescência de plumas para as suaves volutas de ametista animada, que era o íris. A Beatífica Visão, Sat Chit Ananda – Existência-Consciência-Beatitude – pela primeira vez entendi não em termos de palavras, não por insinuações rudimentares vagamente, mas precisa e completamente, o que queira significar essas sílabas prodigiosas. (...)
O que me diz das relações espaciais? perguntou o investigador enquanto eu olhava os livros. (...) O que mais ressaltava era a constatação de que as relações espaciais tinham perdido muito do seu valor e de que minha mente tomava o contato com o mundo exterior em termos de outras dimensões que não as de espaço. (...) A mente elabora a compreensão das coisas em termos de intensidade de existência, profundidade de importância, relações dentro de um determinado padrão. (...) Não, evidentemente, que a noção de espaço houvesse sido abolida. (...) espaço ainda estava ali: mas havia perdido sua primazia. A mente se preocupava, mais do que tudo, não com medidas e lugares, e sim com a existência e o significado. (...)
Aquilo que, na terminologia religiosa, recebe o nome “este mundo” é apenas o universo do saber reduzido, expresso e como petrificado pela limitação dos idiomas. Os vários “outros mundos” com os quais os seres humanos entram esporadicamente em contato não passam, na verdade, de outros tantos elementos componentes da ampla sabedoria inerente Onisciência. (..)
Em certos casos, poderão dar-se percepções extra-sensoriais. Outras pessoas podem descobrir um mundo de visionária beleza. Ainda outras têm a revelação da glória, do infinito valor e significação da existência primeva, do fato objetivo e não conceituado. No estágio final da despersonalização há uma obscura noção de que Tudo está em todas as coisas – de que Tudo é, em verdade, cada coisa. Isso é, no meu entender, o máximo a que uma mente finita pode alcançar em “aperceber-se de tudo o que está acontecendo em qualquer parte do universo”. (...)
A grande percepção às cores de que o olho humano é capaz é um luxo biológico – inestimávelmente precioso para nós, como seres intelectuais e espirituais, mas desnecessários à nossa sobrevivência como animais. (...) A mescalina aviva consideravelmente a percepção de todas as cores e torna o paciente apto a distinguir as mais sutis diferenças de matiz que, sob condições normais, ser-lhe-iam totalmente imperceptíveis". (...)

terça-feira, setembro 02, 2008

Nascer de novo

É difícil fugir da essência. Dizem que pau que nasce torno, morre torto. Mas eu não sei da veracidade dessa constatação. Mesmo assim é muito difícil fugir da essência.
Uma vez que você passou a vida inteira fazendo algo, desfrutando algumas maravilhas, não ligando pra muitas opiniões, é difícil parar do nada, com as tentações mundanas.
Sozinho é muito difícil. Trata-se de uma empreitada sem motivações. Mas com certeza quando há alguém que possa se aparar, tudo fica mais fácil de enfrentar.
Sozinho é muito difícil. Não se enxerga horizonte. Mas apenas aquilo que está mais ou menos diante do nariz, e olhe lá. É muito difícil.
Tornar-se a pessoa que todos querem que sejas, mas no fundo você mesmo não quer ser, isso é portanto, fugir da essência. Fazer os outros felizes e esquecer, pra sempre o que você foi.
Para fugir dela, é preciso isolar-se. Do mundo, e de todos. Ser calculadamente sozinho. E nascer de novo.