PARADOXO DO TEMPO
Tem quem pense ontem. Não almeja maravilhas e nem sofre por antecipação. Fica estagnado de passado, vivendo de lembranças mortas, paradoxalmente vivas na memória. Sobrevive de filmes clássicos, roupas com naftalina e bolachas Maria. Não acerta mais o relógio e pulsa lento em direção contrária. Pouco nítido e antiquado. Mas vive assim, de ontens e carnavais pulados.
Tem quem pense agora. Não revive momentos felizes ou aprende com os erros. É frio e calcula o próximo passo pensando que, amanhã já é, paradoxalmente, agora. Sobrevive do segundo, do impulso e da rotina. Café amargo também. Relógio consultado toda hora. Mas, porém, contudo, todavia... Doravante! Assiste pessoalmente. Encaixa-se aqui entre o período de maior ou menor duração, compreendido entre o passado e o futuro; o tempo atual. Vive assim numa cisterna de memórias perdidas.
Tem quem pense amanhã. Supõe que agora não importa e ignora o passado. Pense à frente dos pensamentos lapsos. Sofre, paradoxalmente, por antecipação – porque sofre agora o que virá amanhã. No tempo que há de ir encontra seu porto seguro. Sobrevive de planos, quitações e férias da empresa. Unhas também contam. O relógio está adiantado para não perder a hora. A hora que virá - insônia. Traçou a carreira pra vida toda e está comprometido em cumpri-la.
Balancear o tempo e viver com suavidade. A máxima de que a felicidade é uma boa saúde e memória fraca, deturpa. É sim, preciso lembrar. Não de tudo, mas daquilo que só quem viveu considera importante. O resto, é saber aproveitar a chance agora, para que amanhã se tenha uma boa saúde.