sábado, maio 16, 2009

Fragmentos do ultimo Sarau Eleituras

Na ultima quinta feira (14/05/2009), aconteceu no Palace Cultural, no centro de Ribeirão, mais uma edição do Sarau Eleituras, abordando o tema “arte e loucura”. O sarau deixou o termo loucura, muitas vezes confuso pela sociedade, bem esclarecido pelas diversas manifestações apresentadas.

Entre as apresentações, estiveram presentes membros da ONG Associação Loucos pela Liberdade, que divulgaram através da leitura de poemas escritos por pacientes, a campanha da entidade denominada Movimento Anti Manicomial. De acordo com um dos membros da associação, Luizinho Gonzaga, “O ser humano não enlouquece sozinho; se ele enlouquece, é porque a sociedade o deixa enlouquecer”.

Teatro e música também fizeram parte do evento. A declamação da lenda do poeta também foi um dos momentos mais marcantes, em minha opinião, do sarau. A artista, contara que “um homem deitou-se nas areias da montanha perto de sua casa. Quando acordou, reparou que sua cabeça estava presa na terra. Chamou sua mulher e esta, viu que sua cabeça estava cheia de raízes, havia se enraizado. O homem, disse-lhe que cortasse as raízes com o machado. Mas ao cortar, a mulher se desesperou, pois saíra muito sangue, e lhe dava a impressão de dor intensa. O homem negou a dor, mas a mulher, recusou-se a continuar. Então, ela decidiu chamar os camponeses, e estes cavaram, cavaram, cavaram, e viram que seria impossível arrancar as raízes do chão, porque estas davam a volta na Terra. Então, resolveram chamar os sábios. Eles pensaram, pensaram e pensaram. Eis, que o mais velho sábio diz: - Já sei o faremos. Vamos transferir essa cabeça para as alturas. Vamos transferir essa cabeça para a lua. E o homem ficara com a cabeça na lua. E então, nasceram os poetas”.

Todos os presentes participaram de uma trova de um poema de Mário Quintana, onde as falas foram revezadas entre homens, mulheres e locutor. O poema de Paulo Leminski, diz em dado momento que, “Quando tiver 70 anos, acabará essa minha adolescência. Vou parar com essa vida louca”.
Após isso, o professor de psicologia da USP, Isaias Pessotti, foi à frente para ler um trecho do seu livro “A Loucura e as Épocas”. Pessotti, declara em meio sua dissertação, que a loucura, é dada no momento em que o homem perde o autogoverno; e que esse governo é regido pelas paixões. Explica também que, o fascínio pela loucura, se deve porque a loucura é um desafio. É o perigo de não ser mais homem. De enfrentar a nulidade. E que, a mente em transformação não age pela razão. Porque a razão só se mantém com o que está morto.
Na seqüência do discurso do professor, houve uma apresentação dramática brilhante de um rei-louco. E finalizando a primeira parte, a música de Luizinho Gonzaga e Carlinhos Antunes, com sua harpa céltica esplendorosa, apresentando algumas das músicas que estarão no show, Loucos pela Vida, no SESC dia 20 de maio, às 21 horas.
Após tudo isso, uma pausa. E após a pausa, um segundo momento, onde os meros mortais puderam ler seus poemas ou textos trazidos.

Crítica
Sim, quem já foi em pelo menos um, dos saraus promovidos pelo Eleituras, consegue nitidamente, enxergar o progresso alcançado pelo grupo de leitores, dirigidos, por Tânia Cosci. O grupo passou a ter apoio da Secretaria da Cultura e do Instituto do Livro. Está mais organizado e agora os encontros passam a ser em locais maiores e mais públicos.
No entanto, em termos de divulgação ainda deixa um pouco a desejar, pois, algumas pessoas – os meros mortais, que levaram seus trabalhos, ou textos, livros, etc., não tiveram a oportunidade de mostrá-los no conjunto. Isso, fez com que o caráter do evento ficasse mais pessoal e programado, deixando para trás a essência do evento que antes, dava oportunidade a todos, ou quase todos, que quisessem se apresentar.
A pausa foi feita após as apresentações mais enérgicas e dos convidados mais ilustres. Fazendo com que a segunda parte reduzisse a quantidade de espectadores a estudantes e professores organizadores do evento. O tempo, limitado pelo Palace Cultural, restringiu essas apresentações. Se talvez a pausa houvesse ocorrido após todas as apresentações, as outras pessoas também teriam tido chance de mostrar seus trabalhos para todos, inclusive, para os ilustres, e não apenas para o pequeno publico que restou após o break.
Mesmo assim, o Sarau Eleituras foi um grande sucesso.
Aguardamos a outra edição com a expectativa de uma ótima opção de lazer cultural, que relativamente é escassa em Ribeirão.

2 comentários:

Santa Insolência disse...

Anandha,
Concordo com vc, acho q no próximo precisamos criar estratégias para a participação espontanea. Ficamos um pouco limitados pelo espaço que não me pareceu aconchegante e nem facilitador, mas sinto que cumprimos belamente um dos objetivos, falar de Literatura. Creio que a participação de pessoas críticas e dinâmicas como vc contribui muito para que acertemos um "formato" mais sarausístico (perdoe-me o neologismo) que tanto persigo. O próximo sarau já está se delineando na minha cabeça, será algo como "Nos canfudós da Literatura".

Beijos e obrigada pelo belíssimo texto.

Uma correção, quem tocou harpa foi o Nando Araújo.

Gil LUIZ MENDES disse...

Anandha,
Acho que você de veria ser uma das Atrações neste sarau. Pelo menos pela web você é a melhor pessoa que conheço a tratar da loucura.

Um grande beijo do Malokero.