quinta-feira, setembro 04, 2008

Devido a minha atual fase de leitura, resolvi fazer um “resumo-fichamento” de mais um livro de Aldous Huxley: “As portas da percepção – O Céu e o Inferno”. Nesse livro o autor narra suas experiências com a substância alcalóide, mescalina.
Que fique claro que não se trata de uma apologia. Mas para aqueles que curtem o universo da transcendência, curtam. Conforme for prosseguindo a leitura, publicarei os parágrafos mais curiosos e interessantes já lidos.


I

"A despeito dos setenta anos de pesquisas sobre mescalina, o material psicológico que se dispunha era ainda incrivelmente reduzido, e ele [o pesquisador] estava ansioso por ampliá-lo. Eu me atravessara em seu caminho e estava disposto – ou melhor decidido – a servir de cobaia. E foi assim que, numa radiosa manhã de maio, tomei quatro decigramas de mescalina, dissolvidos em meio copo d’agua, e sentei-me para esperar os resultados.
Vivemos, agimos e reagimos uns com os outros; mas sempre e sob quaisquer circunstâncias, existimos a sós. Os mártires penetram na arena de mãos dadas; mas são crucificados sozinhos. Abraçados, os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados em uma única autotranscendencia, debalde. Por sua própria natureza, cada espírito, em sua prisão corpórea, está condenado a sofrer e gozar em solidão. Sensações, sentimentos, concepções, fantasias – tudo isso são coisas privadas e, a não ser através dos símbolos, e indiretamente, não podem ser transmitidas. Podemos acumular informações sobre experiência, mas nunca as próprias experiências. (...)
Assim, como poderá o indivíduo, mentalmente são, sentir o que realmente sente o insano? (...)
Palavras tais como Graça e Transfiguração vieram-me à mente, e isto, sem dúvida, era o que, entre outras coisas queriam elas significar. Meus olhos se encaminhavam da rosa para o cravo, e daquela incandescência de plumas para as suaves volutas de ametista animada, que era o íris. A Beatífica Visão, Sat Chit Ananda – Existência-Consciência-Beatitude – pela primeira vez entendi não em termos de palavras, não por insinuações rudimentares vagamente, mas precisa e completamente, o que queira significar essas sílabas prodigiosas. (...)
O que me diz das relações espaciais? perguntou o investigador enquanto eu olhava os livros. (...) O que mais ressaltava era a constatação de que as relações espaciais tinham perdido muito do seu valor e de que minha mente tomava o contato com o mundo exterior em termos de outras dimensões que não as de espaço. (...) A mente elabora a compreensão das coisas em termos de intensidade de existência, profundidade de importância, relações dentro de um determinado padrão. (...) Não, evidentemente, que a noção de espaço houvesse sido abolida. (...) espaço ainda estava ali: mas havia perdido sua primazia. A mente se preocupava, mais do que tudo, não com medidas e lugares, e sim com a existência e o significado. (...)
Aquilo que, na terminologia religiosa, recebe o nome “este mundo” é apenas o universo do saber reduzido, expresso e como petrificado pela limitação dos idiomas. Os vários “outros mundos” com os quais os seres humanos entram esporadicamente em contato não passam, na verdade, de outros tantos elementos componentes da ampla sabedoria inerente Onisciência. (..)
Em certos casos, poderão dar-se percepções extra-sensoriais. Outras pessoas podem descobrir um mundo de visionária beleza. Ainda outras têm a revelação da glória, do infinito valor e significação da existência primeva, do fato objetivo e não conceituado. No estágio final da despersonalização há uma obscura noção de que Tudo está em todas as coisas – de que Tudo é, em verdade, cada coisa. Isso é, no meu entender, o máximo a que uma mente finita pode alcançar em “aperceber-se de tudo o que está acontecendo em qualquer parte do universo”. (...)
A grande percepção às cores de que o olho humano é capaz é um luxo biológico – inestimávelmente precioso para nós, como seres intelectuais e espirituais, mas desnecessários à nossa sobrevivência como animais. (...) A mescalina aviva consideravelmente a percepção de todas as cores e torna o paciente apto a distinguir as mais sutis diferenças de matiz que, sob condições normais, ser-lhe-iam totalmente imperceptíveis". (...)

2 comentários:

Nando Porto disse...

Oi moça, por acaso achei seu blog, boa a sua popstagem sobre o livro do A.H., acho que você ja dee ter escutado ou até ja lido mas recomendo Carlos Castaneda," A erva do Diabo" (apezar do titulo ser apelativo e até pejorativo é um otimo livro)....

abraços

Anandha Correia disse...

Nando, já ouvi falar e mto desse livro, li uma parte mas eu era mto 'pequena' ainda, pra sacar alguams coisas... esse livro faz parte do minha 'lista de livros que eu tenho que ler até 2025' hahahaha!
Obrigado pela visita e volte sempre!
abs